Os versos da canção “Fora da Ordem”, que introduzem estas mal traçadas linhas, são de Caetano Veloso, que há poucos dias numa entrevista ao jornal Folha de S. Paulo definiu os “rolezinhos” como sendo “a sociedade em movimento”. Só para lembrar, rolezinho foi o nome dado à ocupação por grupos de adolescentes em shoppings. Aqui mesmo em Sorocaba essa prática rendeu muita discussão e dois dos centros de compra que funcionam na cidade obtiveram liminar na Justiça para impedir a presença dos jovens em seus recintos. Alegaram os empreendimentos que a concentração colocaria em risco a integridade patrimonial e a segurança dos clientes que por lá circulam. Passada a euforia do momento, deram os rolezinhos lugar a outras manifestações. Dessa forma, assistimos, agora, a um verdadeiro levante, cujo resultado foi a morte do cinegrafista da TV Bandeirantes que acompanhava a mobilização no Rio de Janeiro, atingido que foi por uma bala perdida. Talvez os estudiosos de plantão tenham teorias mais fundamentadas para explicar o que exatamente acontece. Por que, afinal, tantos protestos? Daqui, à distância, observador que sou, atrevo-me a responder que os fatos ora testemunhados têm relação com as passeatas havidas em junho do ano passado, quando jovens foram as ruas para pedir que o preço da tarifa de ônibus não aumentasse. É inegável que o estopim dessa onda foi aceso naquele instante. Como disse o compositor, a sociedade está se movimentando. O problema é saber para onde e com quais objetivos. Toda forma de manifestação é legítima e autorizada por norma própria. Os excessos, todos sabemos, são puníveis. Sobra disso tudo que a insatisfação dos manifestantes deve ser objeto de reflexão. Tem, sim, razão o povo quando reclama dos gastos excessivos com a organização da Copa do Mundo; quando grita contra o nível da representatividade política e a impunidade dos que corromperam e ou foram corrompidos; quando pede um país melhor. A soma disso tudo aponta na direção da ausência do Estado, enquanto ente organizador. A situação chegou a tal ponto que hoje estampam os jornais notícia segundo a qual o suspeito de matar o cinegrafista da Band seria um detento que cumpre pena em Bangu! As coisas perderam o sentido. Alguma coisa está, mesmo, fora da ordem. E sem controle algum!
por Joel de Araujo.