Fui tomado de indignação, tanto quanto muita gente, ao saber do caso do adolescente de 15 anos que, sob a acusação de ter furtado uma furadeira foi perseguido, agredido (ou quase linchado) e acorrentado nu a um poste no bairro de Copacabana, Rio de Janeiro. O acontecido ganhou ampla repercussão, foi e é debatido nas redes sociais. Dele extraem-se inúmeras lições, mas a principal delas parece não ter sido assimilada. A ninguém é dado fazer justiça com as próprias mãos. Se é que pode ser chamada de “justiça” tão arbitrária e desumana ação. Compartilhamos aqui neste espaço com os que nos acompanham nossas impressões. Quando à frente da subseção Sorocaba da OAB, trabalhamos junto com uma diretoria forte e combativa para evitar abusos, desmandos. A ordem exerceu, naquele momento, seu papel de fiscalização e guardiã política da sociedade. Lembro-me do episódio de reintegração na posse do terreno ocupado por famílias na Vila Helena, imediações do aeroporto, quando dois diretores da entidade foram agredidos por policiais militares despreparados para o cumprimento da ordem judicial. Foram eles até lá justamente com o intuito de evitar um confronto que pudesse ter desdobramentos mais graves. E conseguiram impedir o pior, vale ressaltar. No caso do adolescente submetido à tortura (sim, foi o que aconteceu, afinal) assistimos a uma triste reedição dos piores momentos da omissão do Estado, da falta de investimentos em setores estratégicos como educação, da ausência da família e do descaso do Judiciário. Na reportagem levada ao ar domingo pelo programa “Fantástico”, da Rede Globo, a delegada de polícia responsável pela área declarou não poder agir movida por informações transmitidas via rede social. Talvez até não pudesse mesmo. Essa postura, entretanto, reforça o comodismo das autoridades diante de problemas tão graves. A tal ponto isso acontece, que um grupo de “justiceiros” arvorou-se em assumir, naquele Estado, o controle da situação e, sem amparo algum, aplica “corretivos” em autores de infrações. Segundo consta, o grupo formado por jovens investe-se na condição de defensor dos fracos e oprimidos e, sem cerimônia, prende e bate nos suspeitos, a fim de que não voltem a cometer crimes. Não é exatamente esse o modelo de convívio social que todos esperamos. Não parece adequado viver num mundo em que pessoas são violentadas e expostas à execração pública. Não faz sentido manter uma força paramilitar que resolve os problemas da criminalidade recorrendo também ao crime. Estamos num momento particularmente pródigo para discutir o tema. Teremos este ano eleições. É o momento em que os cidadãos podem fazer valer sua condição. A escolha acertada de candidatos comprometidos com o bem estar comum, por mais difícil que alguns queiram, ainda é a melhor das alternativas. Além disso, acima de tudo, que todos possam compreender e praticar o sentido da solidariedade, da fraternidade e do respeito aos direitos humanos. Como disse Kant, “a inumanidade que se causa a outro, destrói a humanidade em mim”. Pensem nisso. Até a próxima postagem.
por: Joel de Araujo